São Paulo, 25 de outubro de 2014.

Hoje vejo o passado e percebo o quanto estive errada. Nesse tempo que passou desde a primeira vez que escrevi aqui, cometi muitos erros. Talvez esse tenha sido o pior ano da minha vida e não culpo ninguém sobre isso porque a culpa é toda minha. Fui errada em pensar que seria feliz pertencendo a muitas pessoas e não sendo a única de ninguém. Um cara passou pela minha vida e ele mexe comigo, mas como todos os outros, acho que ele já se cansou de mim. Me sinto mal pelas coisas que fiz, mas de certa forma não me arrependo. Mesmo se eu me arrependesse de tudo, não mudaria nada né? Tive recaídas e essa não foi a pior parte. Bom, talvez tenha sido. Estive me procurando nesses tempos, sendo várias pessoas diferentes e tentando descobrir quem eu realmente era. Mesmo que se descobrir seja a melhor coisa do mundo, pra mim foi a pior coisa que eu já tentei. Não posso mudar isso, não mais. Queria ser o tipo de pessoa que dá orgulho de conhecer e conversar, alias, acho que fui. Alguém despertou o melhor que eu podia ser, alguém acreditou que eu era boa o suficiente, que eu era a pessoa que nasci pra ser. O único problema é que essa pessoa é passageira, ela não gosta de permanecer na vida de ninguém e isso eu já percebi. Queria que ele ficasse, mas uma vez li em um livro que não se pode segurar ninguém em sua vida, é errado. E agora, depois de tanto procurar quem eu sou, acho que já descobri. O passado fica no passado e não quero que me julguem por quem eu era um tempo atrás, assim como não vou julgar o que eles eram antigamente.

São Paulo, 17 de junho de 2014.

Querido diário, hoje o dia não foi tão fácil. Fui humilhada por algumas meninas. Por mais que eu diga que não, ainda me dói não ser tão bela quanto as outras. Dói não ter um nariz perfeito, olhos claros, uma boca que chame atenção. Confesso que algum tempo atrás, eu vivia me perguntando ''Porque não nasci tão bonita quanto elas?''. Esse pensamento me perseguia e me machucava. Parece fácil, posso rir de algumas brincadeiras, mas ainda dói. Não sou totalmente acostumada com isso. Alias, sou sim. Mas machuca. É chato não chamar atenção dos garotos, só ser zoada por eles. Eu queria ter o tipo de beleza que quando passassem na rua olhassem e falassem ''Que menina bonita''. Eu queria ter amigos que pudessem me dizer todos os dias o quanto eu sou bela e pra eu não me preocupar com isso. Queria que minha mãe me dissesse como sou bonita, e como vou arrasar corações por ai. Queria que tivesse tias que falassem o quanto se orgulham por eu ter nascido a menina mais linda da família. Queria poder tirar quantas fotos quisesse e ainda sim sair bonita em todas. Queria ter um belo cabelo, uma bela bunda, um corpo perfeito. Eu aceito o fato de ser feia, não por completo, mas aceito. Ainda existem pessoas que dizem que sou bonita, mas sei que é da boca pra fora. Eu não sou. E tudo isso é difícil, sabe? Porque eu não posso mudar, eu não posso voltar pro útero da minha mãe e sair de lá só quando ficasse bonita. E parece que todos a minha volta são lindos, parece não, são. Eu tenho amigas belas, e tenho um pouco de inveja por elas serem bonitas demais. Invejo os narizes tão perfeitos, as bocas carnudas, os belos olhos, os cabelos grandes e bonitos. Eu queria ser elas, queria mesmo. Eu queria ser qualquer outra garota bonita, queria ser elogiada pelo menos uma vez na semana, queria ouvir alguém dizer ''ei, sabia que você é linda?''. Mas simplesmente não dá, não muda. Machuca. Mas o que vou fazer? Eu não posso mudar isso. As pessoas me humilham como se eu tivesse culpa, como se eu quisesse ter nascido assim. Porra, cê acha que se eu pudesse escolher eu não nasceria uma Lindsay Lohan, uma Emma Watson? Sei lá. Mas ninguém entende, só sabem julgar. Mas eu não me importo, se eu nasci assim, é assim que vou morrer. Não muda, e isso dói, dó muito.